Impulsionado pelo expurgo anticomunista de 1965-66, Suharto governou a Indonésia por 32 anos. Reuters/Enny Nuraheni

O público internacional foi apresentado ao massacre de comunistas na Indonésia em 1965-66 pelo documentário de 2012, ” _The Act of Killing”_
(O Ato de Matar)
Embora os detalhes do ocorrido permaneçam enterrados nas profundezas do tempo, eis o que sabemos.

Em 30 de setembro de 1965, um grupo de sequestradores de esquerda, autodenominado Movimento 30 de Setembro, sequestrou seis generais do exército e um primeiro oficial de suas casas. Algumas horas depois, o movimento anunciou no rádio que havia tomado medidas para proteger o presidente empossado do país, Sukarno, dos generais de direita que, segundo eles, planejavam um golpe.

Primeiro presidente do país, Sukarno era um “nacionalista” alinhado aos comunistas. Ele tinha atuado com destaque no processo de independência da Indonésia em relação à Holanda, em 1945.

Quando o governo Sukarno deu demonstrações da intenção de aliar-se ao bloco comunista, o Major-General Suharto, reagindo ao vácuo no alto comando do exército, assumiu a liderança do mesmo.

Ele persuadiu e intimidou as sequestradores do movimento no centro de Jacarta a se renderem sem muita resistência, e então invadiu o quartel-general do movimento na base da Força Aérea de Halim.

Em menos de 48 horas, Suharto derrotou completamente o Movimento 30 de Setembro. Mais ou menos na mesma época, os corpos dos sequestrados foram encontrados em um antigo poço em uma área conhecida como Lubang Buaya (Buraco do Crocodilo), no leste de Jacarta.

O exército acusou o Partido Comunista Indonésio (PKI) de estar por trás do movimento e de ter como objetivo derrubar o governo. Isso desencadeou o maior expurgo anticomunista e massacres da Indonésia moderna. Milhares de comunistas sofreram anos de encarceramento e tortura sob a Nova Ordem, o regime construído por Suharto quando se tornou presidente em 1967.

Uma onda de violência

Após assumir o controle da situação e dos meios de comunicação, Suharto lançou uma operação para destruir o PKI e seus seguidores. Ele enviou a unidade de Forças Especiais do exército para prender e encarcerar suspeitos de serem membros do partido comunista.

Na terceira semana de outubro de 1965, uma onda de violência — incluindo prisões, tortura e assassinatos — começou em Java Central, seguida por Java Oriental em novembro e continuou em dezembro até a ilha de Bali.

Todas as vítimas eram comunistas ou acusadas de simpatizar com o comunismo: sindicalistas, intelectuais, camponeses, professores e até artistas. A intensidade da crueldade, com decapitações, torturas, estupros, e execuções sumárias escancarou a profundidade da repressão, que não ficou só nos líderes, mas desceu até o povo simples que supostamente também apoiavam os comunistas.

Esforços semelhantes ocorreram em outras partes da Indonésia, mas principalmente em menor escala. Estima-se que entre 200 mil e 800 mil comunistas tenham sido mortos durante o expurgo anticomunista. Muitos outros foram presos, exilados, discriminados e estigmatizados.

Sob o regime da Nova Ordem, criado posteriormente por Suharto, ex-prisioneiros políticos tiveram seus documentos de identidade marcados. E seus filhos não foram autorizados a ingressar no serviço público ou militar.

Milícias civis, forças do exército e grupos islâmicos radicais participaram ativamente. O grau de envolvimento social foi alto, vizinhos, e comunidades inteiras colaboraram com a caça aos comunistas.

Um nível institucionalizado de massacre silencioso, com apoio (ou omissão) de países como os EUA e Reino Unido.

Consequências

O PKI foi de fato destruído. E o presidente empossado do país, Sukarno, foi gradualmente removido do poder à medida que o exército se tornava o poder político dominante na Indonésia.
Suharto tornou-se presidente de fato em março de 1966 e foi nomeado presidente interino pelo parlamento um ano depois. Ele governou como ditador por mais de 30 anos.
O comunismo foi banido do país, e até hoje o tema é tabu.
Milhares de sobreviventes e seus descendentes continuam marginalizados socialmente.

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